domingo, 16 de dezembro de 2018

Quando quebramos e somos quebrados






“Essa é a história de Inácio.
Filho único, criado por sua mãe e seu padrasto. Pai falecido quando ele ainda era um bebê.
O padrasto gostava de ficar de conversa e de bebida. Sua mãe era quem buscava o sustento do lar pelo mundo a fora.
Quando apanhava da mãe, sentia que não era a ele que ela via quando olhava nos seus olhos.
Quando apanhava do padrasto, não via seus olhos.
Ainda jovem fugiu de casa, com o corpo e com o coração cheios de cicatrizes.
E gostaríamos de contar que apesar dos pesares, ele superou as dores do mundo e foi luz e amor em seu caminho. Não podemos.
Uma vida cheia de raiva, cheia de dor. Muitos lares foram feridos por suas mãos. Muitas lágrimas foram derramadas por sua presença.
Um dia o corpo de Inácio faleceu.
E lúcido de que a sua consciência continuou viva apesar da veste biológica em putrefação, paralisou-se.
Luzes apareceram e ofereceram ajuda.”Está tudo bem. Venha conosco, vamos começar a curar a sua dor e, juntos, auxiliaremos na dor de todos que passaram pelo seu caminho.”
Não! Não,ele não se sentia digno. O que tinha feito era sujo e dolorido demais. Ele correu, correu, tentando fugir de si mesmo.
Encontrou um lugar fétido e escuro que representava bem como se sentia por dentro. E não queria mais sair dali.
Permitiu que toda sorte de abusadores maltratassem aquilo que ele representava.
E todas as vezes em que era visitado por nós, encolhia-se e congelava.
“Querido Inácio, de que vale seu sofrimento? Tudo o que você ofereceu durante a sua vida era a melhor resposta que você tinha para dar. Ferir-se não será remédio para nenhuma das pessoas que você machucou. Venha, nos acompanhe. Mostraremos a você como reparar cada situação de que se arrepende.”
Por muitas vezes conversamos com Inácio, sem que ele levantasse sua cabeça. Sabíamos que apesar de não responder, nossos sentimentos amorosos fluíam como bálsamo para a dor de seu coração.
Um dia, Inácio permitiu-se receber ajuda.
Hoje trabalha junto conosco, descendo aos lugares mais escuros, buscando aqueles que procuram esconder-se de si mesmo assim como ele fez um dia. Ele sempre é um dos primeiros a se embrenhar nos emaranhados escuros, e muitas vezes trouxe no colo irmãos deformados por autoflagelos.
Ele pede agora que esta mensagem fique bem clara.
Está tudo certo. É possível reparar a semeadura espinhosa com serviço e com amor.  O sofrimento é uma escolha pessoal. A dor não agrega cura ao sistema. Ela apenas permite que o algoz sinta-se quite consigo mesmo para poder se olhar novamente.
Quando um vaso é quebrado e sua água é derramada, qual a melhor solução para o sistema? Correr para longe quebrando a si mesmo por anos a fio? Ou, abaixar-se, juntar os pedacinhos um a um, e limpar o conteúdo extravasado?
O sofrimento é uma escolha pessoal. A culpa é toxina paralisante. O autoflagelo é um recurso à falta de acolhimento e amor consigo mesmo.
Serviço com Amor. Acolher a seus próprios limites do presente. Estender a mão e o olhar compassivo a todos ao seu redor. Estamos todos juntos, na mesma sala cheia de vasos quebrados. Há muitos panos e cola por aqui. E não há julgamentos. “

E era Inácio quem aparecia, quando nas conversas em meu consultório a questão era “o que fazemos conosco - mesmo que inconscientemente - quando sentimos culpa”. Inspirado por ele, eu bagunçava toda minha mesa montando cenários para ilustrar as palavras. Gratidão, gratidão,gratidão.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Pedi e obtereis

Resultado de imagem para as aparências enganam




Vocês já sabem que enfrento um novo desafio em minha vida: ressuscitar a clínica que há em mim.
E a cada dia em que visto este papel aprendo mais e mais ... mais e mais...
Há um ritual. Antes de abrir esta portinha, eu me conecto a todos os Mestres e Orientadores. Relembro a mim mesma que trabalho em equipe. E desejo me tornar um canal. Que minhas ações sejam aquilo  que for necessário e benéfico a quem passar por meu caminho. E sigo em frente.
Aí, acontece uma coisa como ontem hehehe.
Mais um paciente grave, que me exige a recordação de uma série de procedimentos.  Um deles, o acesso central, eu acreditei que poderia “segurar” e deixar para o colega da UTI seguir com os protocolos.
Quando fui passar o caso para ele, foi deixado bem claro que não.  Eu que teria que fazer isso antes do paciente ser levado para lá. Eu tentei explicar que estava insegura, que há 6 anos que não fazia um procedimento deste. Após algumas considerações da parte dele sobre a faculdade onde me formei, escutei  dele “Honre esse jaleco que você está vestindo”.Concordei com ele, e sai desejando em voz alta que passar acesso fosse como andar de bicicleta.
Confesso para vocês, que ao ouvir o julgamento dele, meu primeiro impulso foi o de correr para algum canto e chorar. Mas uma outra parte minha assumiu a situação, me deu um beliscão e ordenou “engole isso ai menina”. Respirei fundo, e lembrei que estou o tempo todo trabalhando em equipe. E que se surgiu este caso no meu caminho é porque eu dava conta sim.
Preparei tudo, me paramentei, e a colega do plantão estava por perto caso eu precisasse de ajuda.  Quando de repente...
De repente o colega da UTI entrou na sala. E disse que veio ver se “eu ia lembrar de como se andava de bicicleta”. Nessa hora,eu pensei furiosa : “Sério Jesus? Sério? Vai ser com requintes de crueldade??”. Mas daí eu lembrei mais uma vez dos ancoramentos que estou fazendo antes de trabalhar e confiei. Me entreguei ao momento, dando o melhor de mim.
E sabe qual foi a surpresa? O colega me deu várias dicas que não estão nos livros. Me recordou pequenos macetes que estavam enterrados na minha memória. E tudo deu certo. Eu consegui.
Quando tudo acabou senti vontade de dar pulinhos de alegria e alívio na sala.
Tanta coisa para refletir...
Você pediu pão? Intencionou dar o seu melhor? Então se a ajuda vier vestida de chifres com um tridente na mão, não entre em desespero. Se você pediu pão, você não receberá pedra. Confie.
E eu cada vez mais reconheço a necessidade de não julgar. Cada um dá o seu melhor. Às vezes isso é tudo, às vezes é nada. E passo a admirar cada vez mais os colegas que fazem a medicina “raiz”, pois em condições adversas eles são os instrumentos de auxilio para uma população desassistida em tantos setores.
E isso me lembra de que é verdade... meu pai mais uma vez tinha razão. Meus conhecimentos médicos, mesmo que limitados, existem por uma razão. Escondê-los, não utilizá-los, é como enterrar os talentos da parábola do nosso querido Mestre do Amor.
Eu preciso deixar disponível o que possuo, mesmo que seja pouco. Humildade. Posso ser útil de alguma forma. E se o desejo de minha alma é servir, bem ... há muito o que se fazer por aí. E há muito o que aprender ... todos os dias.

Gratidão equipe amada que me acompanha na minha jornada em espiral. Às vezes eu mordo a mão que vocês me estendem kkkkkk... e vocês não me abandonam nem desistem de mim. Gratidão, gratidão, gratidão.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Sob a luz da consciência



Nesses últimos dias minha vida ficou cinza. Sorrir era um grande esforço.
Por todos os lados eu via rejeição. Todas as palavras eram interpretadas como farpas afiadas voltadas em minha direção.
Sentia como se o amor das pessoas por mim fosse uma ilusão. Elas amavam a ideia que formavam sobre mim. Se eu expresso uma opinião que não seja condizente com o que elas alimentam em sua expectativa... torno-me a decepção.
E desse jeito olhei para o círculo ao meu redor.
Até que pedi ajuda (veladamente hehehe).
E andando de bicicleta, me permiti aprofundar em minha própria dor. Eu queria entender o que estava acontecendo aqui dentro.
Então eu vi.
Todos ao nosso redor são espelhos de nós mesmos.
Na verdade, o que estava acontecendo, era que EU estava me decepcionando com as pessoas.  Decepcionando-me com a falta de confiança delas, com a falta de fé, com a falta de tolerância, com a falta de compromisso, com a falta de amorosidade, com a falta de generosidade, com a falta de educação.
Entendi que na verdade, eu não amo as pessoas incondicionalmente.
Quando essa frase se formou dentro de mim, foi como um bálsamo. A verdade, a nossa verdade, tem a propriedade de nos curar.
E a partir dai a reflexão só começou.
Amar incondicionalmente traz o conceito implícito de não receber.  Manifeste seu amor espargindo sem esperar receber NADA em troca. Nem gratidão, nem compreensão, nem amabilidade, nem tolerância, nem educação, nem respeito. Não idealize. Permita que o outro seja quem ele está ou é.
Quanta aceitação...
 Em seguida, formulei a questão: “como vou aprender a amar incondicionalmente?”
E a resposta veio límpida: ame incondicionalmente a si mesma. Aceite quem você está, aceite toda a sua cota de desafios pessoais, aceite sua sombra, aceite sua luz. Seja fiel a si mesma, esteja alinhada com seu coração.
E eu consegui respirar ... e sorrir.
É isso meu amigo.  A ilusão de que já amo incondicionalmente foi quebrada. E ouso festejar ao escrever isso. Reconheço, no entanto, que essa é uma meta da minha alma.
Eu desejo amar incondicionalmente. Então agora estou um pouquinho mais desperta para os desafios que me ajudarão a conquistar esse degrau.
Estado atual sob a luz da consciência. Rumo traçado. Caminhando passo a passo, em frente para sempre.

PS.: sobre a imagem ... tava com saudade de fofurices ;) (sou assim ... brega e criança às vezes rsrsrs) .

Adendo do dia seguinte: No processo de amar incondicionalmente ao próximo, enxergar a Criança ferida que as vezes se manifesta por ele ajuda-nos a olhá-lo com amorosidade e acolhimento. Recordar que fora do drama, no nível da alma, temos a intenção pura de sermos e manifestarmos amor.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Quando o medo escolhe o caminho



Hoje uma história veio conversar comigo. Me pediu ajuda. Ela queria reescrever suas escolhas. E fomos juntas nessa aventura.
E de presente ganhei um grande ensinamento.
Continuando com as “Pequenas Histórias”, seja bem-vinda Princesa Elehara.


Eu senti medo. Quando o vi pela primeira vez, ele gritava e batia na mesa. Os olhos de meu pai transmitiam o temor que aquela figura gerava.  O frio que senti correr na minha espinha me dizia que nossos destinos tinham uma conexão.
Estava quase perto do aniversário por mim antes tão esperado. Aquela data em que eu seria reconhecida como mulher e não mais como criança. E seria também quando me perderia de mim mesma.
Minha mãe evitou a notícia até as vésperas da extrema necessidade. Então eu soube.
Estava destinada a ser a esposa daquele a quem mais temia.
Eram tantos os sonhos da minha menina... que a mulher dentro de mim não conseguiu carregar. Sucumbiu.
Depois de poucos dias, eu já tinha um plano. Minha alegria estava em primeiro lugar. Ir ao encontro dos meus sonhos, esse era o meu propósito.
Na noite da minha fuga, fui bem acompanhada. Meu melhor amigo de infância que mais tarde se tornou o companheiro do meu lar, seguiu comigo por muitas semanas de viagem.
E conforme eu ia deixando para trás o medo de viver uma vida que não era a minha, não sentia a leveza e a liberdade que supunha buscar.
Foi uma vida pacata. Tive alguns abortos até desistir da maternidade. Em uma casa humilde, ensinava artes para um povoado enquanto meu companheiro cultivava alguns grãos. Os últimos anos de minha vida passei sozinha. E poucas vezes me permiti pensar em meus pais. Escondia meu amor por eles atrás dos pensamentos do quão sem valor eu era como moeda de troca para eles.
No meu último minuto, quase em meu último suspiro, eu fui verdadeira comigo mesma. Eu fugi. Fugi de compromissos muito maiores do que eu suspeitava. E com pesar senti a dor derradeira em meu peito.
É bom estar aqui. Você me acompanha? Sim... agora você saberá.
Aquele que eu temia, era um grande cobrador de nossa família. Casando-me com ele, eu trago prosperidade e paz para meu reino de origem.
Ele era austero, mas honrado. Não conheceu a doçura em sua vida, por isso não sabia manifestá-la, ainda.
Meus primeiros anos de casada foram os mais desafiadores. Mas aos poucos fui aprendendo a ver as qualidades de meu marido e a admirá-lo. Para que o amor surgisse foi preciso muito pouco então.
A minha presença foi acalmando a dor da alma dele. E também ele aprendeu a dar amor. Todo o nosso povo conheceu esse novo lado dele.
Foi de sua dinastia, o Rei mais amado.
Anos de muita prosperidade, paz e fraternidade foram escritos sobre aquela terra.
Desencarno segurando sua mão, rodeada de filhos e netos. E por onde olho encontro amor e honra.  No meu último suspiro sinto-me preenchida de gratidão ... eu cumpri com o propósito de minha alma, e como consequência tive uma vida repleta de alegria.
Pois assim é, alma minha irmã querida.  Agrego em nós esse conhecimento: a alegria e o prazer de viver são a consequência da realização do nosso propósito de vida, não são a meta em si mesmos. Aceite os desafios da vida, pois eles são os procedimentos alquímicos que nos levarão ao ouro da consciência em paz. Olhe por outro ângulo para as suas situações desafiantes. Lembre-se de que elas sempre serão menores do que você, mesmo que o medo insista em te dizer a mentira contrária.
 Deixo com você a nossa paz.
 Gratidão.

domingo, 30 de setembro de 2018

Os caminhos para a Redenção




       Eu adorava ler romances espíritas quando eu era criança. Eles participaram da minha formação e influenciaram até sobre a decisão da minha profissão. Eu tinha uma afinidade especial pelos do Espírito Antônio Carlos. E nos seus primeiros livros, o personagem principal tinha sempre a última encarnação descrita como médico. E adivinhem? Era essa a encarnação da redenção, onde todas as feridas abertas anteriormente eram cicatrizadas.
      Como eu acalentava o desejo secreto de que essa fosse minha última encarnação na Terra, ela precisava ser impecável e esses romances me indicaram um caminho para minha própria redenção. 
       Vejam, a influencia dessa literatura nessa escolha foi tamanha, que eu não quis nem participar da minha formatura. E eu sei que isso fica até engraçado hoje, mas havia um dos personagens de um dos livros que cometeu vários desvios no dia de sua formatura. E para a “encarnação da redenção” isso não era permitido. Uma pausa para um acolhimento amoroso em mim mesma agora. 
       Quanto dever, não? Quanta rigidez... 
     Precisaram acontecer vários eventos em minha vida para que eu me quebrasse, para que eu pudesse me reorganizar, me reconstruir, livre de tantos rótulos e de tantos deveres. 
     Esse momento da nossa dor. Momento em que questionamos o porquê de tudo aquilo ter acontecido, momento em que nos sentimos abandonados e dentro de um buraco. Esse momento é precioso. 
        Eu sei que agora você não consegue ver assim. Eu também não conseguia. 
       É tanto plástico bolha ao redor do coração, que todos os acontecimentos que nossa Alma busca para a retirada dele, acabam por ser dolorosos. Principalmente se trazemos a rigidez como desafio. E apegados ao plástico bolha, sentimos o vazio.
        Esse momento é precioso.
     Vazios daquilo que realmente não importa, agora prontos para acessar a Fonte das virtudes imperecíveis. O tesouro que não é roubado. 
        Que venha a reconstrução.
      E a orientação não virá de fora meu querido companheiro de jornada. Virá do seu próprio   coração.
        Honre a porção da Divindade que É você. 
     Você não é seu CPF, sua cor de pele, seus órgãos sexuais, sua profissão, seus papéis na  sociedade.  Tudo isso é passageiro em você. 
       O que você É, isto está em seu coração. 
       Eu garanto que o que você encontrará lá dentro está cheio de Luz e Amor. E essa é sua Essência. Isso é o que Somos. 
     Não precisamos nos esforçar para sermos bons, amorosos, justos e fraternos. Só precisamos acessar isso que É dentro de nós.
       Seu coração sabe o porquê de cada coisa que acontece na sua vida. E você nunca esteve sozinho, isso foi parte da ilusão do Plástico Bolha.
         Como ouvi-lo?
     Depois de ler este paragrafo hehehe, feche seus olhos, tome três respirações profundas e intencione. Intencione entrar na Sede de sua alma, e deixe sua mão sobre seu peito. Permaneça nessa conexão alguns minutos e sinta, apenas sinta. Sem julgamentos.
        Essa ferramenta vai ajuda-lo a se aproximar de você mesmo.
        Às vezes, o “eu” rígido que vesti por um tempo aqui nessa vida, sobre o qual falei lá em cima no texto, volta em mim. E recentemente, eu o peguei sorrateiramente agindo na minha vida financeira.
Eu estava pensando nos possíveis bloqueios da minha prosperidade e fiz a meditação da Sede da Alma depois. E a resposta veio... eu percebi que aquele “eu” velho conhecido influenciava na questão “precisa sofrer,precisa pagar” para alcançar a redenção.
      Logo em seguida, meu Coração falou. E foi uma voz cheia de uma energia amorosa e acolhedora: “se você deseja ainda trabalhar a questão de redenção, que tal escolher uma eternidade de serviço no Amor para alcançar a sua redenção”.
       E eu me permiti sorrir alegremente com essa afirmação. Sim. O simples Ser quem Eu Sou será a minha redenção. Servir com amor, derramar a Fonte preciosa que há em meu coração. Isso que dá tanto prazer e alegria em manifestar, isso é a minha redenção.
       E esse poder e essa escolha são seus também.
       Vamos acolher amorosamente todas as nossas partes. Todos os “Eus” que fizeram as escolhas que foram possíveis, dentro do nível de conexão com a Fonte que havia naquele momento. Acolhermos, aceitarmos e integra-los. 
       Tudo fica mais leve assim.
       Namastê, amados companheiros de jornada. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Crianças perdidas pelo Caminho

Download Coração Vermelho Nas Mãos Da Mulher E Da Criança E Com O Estetoscópio Do ` S Do Doutor Foto de Stock - Imagem de miúdo, família: 99334986



Olhar para o paciente e não ter certeza do melhor remédio pra ele. Puxar pela memória os consensos, os trabalhos que indicaram e depois contra-indicaram. Seguir o livro e não obter os resultados.
Eu fugi da experiência. Da oportunidade de ter meu próprio conjunto de erros e acertos que me norteasse mais do que os estudos baseados numa população que não é a minha.
Eu acredito na individuação. E talvez essa tenha sido a fonte dos meus sofrimentos com a minha profissão. Porque eu me colocava numa posição muito cartesiana. Então eu me obrigava a fazer o que era o aceito, julgava sem dó os colegas mais experientes que “faziam protocolos da cabeça deles”. E na verdade, era um Eu meu que não aceitava as receitas de bolo, e era posto por mim na minha Sombra (que eu projetava com raiva em alguns colegas).
E desde que eu mudei de cidade eu tive que olhar para essa Médica Convencional que eu havia enterrado dentro de mim. E foi tão doloroso. Imensamente. Quando eu abri a porta dela, veio tanta raiva ...  
Eu sempre amei estudar, passei minha infância e adolescência dedicada a um objetivo. E eu consegui. Passei na Fuvest em Medicina. E essa criança, ficou perdida em algum lugar da minha história profissional. Enterrada junto com a Clínica.
Tranquei porque não aguentava sentir frustração. Tentar, tentar e não conseguir. Não conseguir curar.
Um dia na aula de psicologia médica da graduação, eu me opus veementemente à Professora, dizendo que o medico não queria curar, ele queria era combater o sofrimento humano. Mentira. O médico quer curar. E uma consequência da cura é a melhora do sofrimento. O médico quer resultado. Eu era uma médica que queria resultado, e por isso era frustrada.  Era muito imatura para olhar para isso ainda.
E agora liberando essa parte, achei a criança. Aquela que amava estudar, que sentia prazer em fazer provas, em explicar o que aprendia. Achei a criança que hoje senta aqui comigo para estudar e relembrar anos de clínica deixados para trás. E junto sinto uma força imensa.
Quantas crianças será que temos que acolher em nós? Quantas partes nossas perdemos ou trancamos ao longo do caminho?
Não sei ... com certeza será um trabalho para a vida inteira.
Pronto Universo ... por um ano você me deu várias razões para eu olhar para a Clínica. Uma delas foi até engraçada: quando eu disse a primeira vez que eu voltaria a dar plantão de Clínica, um corretor ligou logo em seguida pra mim dizendo que havia interessados na compra do meu apartamento. E ele foi vendido nessa ocasião. Mas depois eu sempre dava um jeitinho e corria da ideia do exercício da Clínica Médica.
Agora não mais. E até esse texto é um compromisso redigido e firmado entre todas as minhas partes. E o ONDE não pertence a mim  (né Universo?), e tudo bem, nem o quando (embora um pouco a contragosto rsrsrs).
Estou disponível aos novos desafios. Que surpresa hein Universo? Buscando a Espiritualidade eu descubro a necessidade de me reconciliar com a Matéria. Buscando minha realização profissional, eu encaro a necessidade de viver novamente a Medicina da Matéria.
Talvez lá na frente eu encontre o Caminho do Meio ... o equilíbrio. No momento vou fortalecer a parte enfraquecida que agora trago junto a mim novamente. De volta aos estudos e com prazer.
E salve nossa Criança Interior! Salve!!!

domingo, 12 de agosto de 2018

Pequenas Histórias



Meu processo criativo sempre foi barrado pelo “propósito”, pela “finalidade”. Qual a utilidade disso que vou escrever? E por muitas vezes, algumas histórias não nasceram.
Essa ficou uns dias na minha cabeça. Conversando comigo. Tentando me convencer de que nem sempre há um claro propósito, de que ele pode vir depois, talvez anos depois.
Então eu cedi. E em alguns minutos ela nasceu no papel. Sem finalidade.

Foi criada porque já existia e exigia ser conhecida. Simples assim.



O Mestre e a Discípula

Fazia frio. Muito frio. O vento zunia trazendo pequenas farpas de gelo. Ela podia sentir nos ossos as agudas pontadas. Isso não era nada. Havia uma determinação em brasa dentro dela, e isso seria o suficiente para mantê-la em pé o tempo que fosse necessário.
Uma vez depois de outra, ela tentava. Já havia perdido a conta de quantas vezes tinha recomeçado, até que conseguiu. E mais uma vez, e outra. A alegria da conquista se espalhou por seu corpo prazerosamente.
Os primeiros raios do Sol se juntaram em sua comemoração. Poderia demonstrar ao seu Mestre o que agora dominava.
Correndo pelas ladeiras, sua mente já projetava os olhos encantadores cheios de orgulho focados apenas nela. Antes fosse seu coração a correr do que suas pernas – de certo chegaria mais rápido.
E tudo durou uma eternidade dentro de um instante. A porta da frente da casa dele se abriu, e um anjo vestido de mulher saiu em seguida a ele. Houve um abraço e um caloroso beijo.
Ela pode ouvir seu próprio coração parar. Sua boca secou e seus olhos arderam. E quando recebeu os olhares de surpresa vindos da edícula, uma forte batida em seu peito a fez voltar a ser quem era – ou quase isso.
Seu impulso foi partir. Fugir o mais longe que poderia dali.
Não saberia dizer por quanto tempo correu, mas com certeza foi menos do que gostaria. Depois de algumas horas sentiu seu corpo esgotar suas forças e uma escuridão torporosa tomou conta de tudo.
Quando recobrou a consciência, estava deitada entre alguns arbustos. A luz poente indicava o tempo que havia passado ausente de sua própria realidade. Não estava habituada àquele cenário, mas o barulho do rio denunciava a presença de água. Lentamente se esticou até lá.
Decidiu que sua noite seria ali mesmo. Ela precisava entender o que estava acontecendo.
Pela primeira vez em cinco anos não passou o entardecer treinando. Pela primeira vez em cinco anos, não viu os mais belos olhos sorrindo, não ouviu a voz mais serena e gentil chamar por seu nome, nem recebeu a mão estendida mais firme e quentinha do mundo para que ela levantasse.
Ainda se lembrava vividamente do dia em que ele lhe aceitou como discípula. Fora a escolhida entre muitas crianças. Muitas promessas silenciosas aconteceram ali.
Repassou a partir de então cada dia que se seguiu a essa lembrança inicial. Buscou detalhadamente. Minuciosamente. Nada encontrou. E no calor das lágrimas que inundavam seu rosto conseguiu concluir. Nunca houve um pedido dele pelo coração dela, mas mesmo assim ela havia lhe entregado a própria alma.
As estrelas foram suas companheiras naquela noite. E seu próprio lamento o som que a embalou ao sono profundo horas depois.
O despertar pela manhã veio com a imagem de um rosto em sua mente: já conhecia aquela mulher. E uma dor visceral seguiu-se à sua lembrança: ela era mesmo um anjo. Havia chegado ao vilarejo há poucos meses, e trazia muitos conhecimentos sobre ervas e flores.  Curou muitas pessoas, inclusive a ela.
Sentiu agora queimar a área da cicatriz. Um emplasto que fora preparado carinhosamente por aquela mulher fora colocado ali há algumas semanas. Naquele dia não sentiu arder a área escalpelada, estava hipnotizada pela doçura que era emanada pela voz e pelo toque da curandeira. Recebeu alguns tônicos e um extrato para seus cabelos, com um cheiro igual ao dos campos de lavanda.
Essas memórias a deixaram com mais raiva. Como ela queria odiar essa mulher para o resto de sua vida ... mas isso seria impossível. E uma nova torrente de lágrimas se seguiu.
Ouviu um barulho se aproximando e correu para cima de uma árvore. Observou seu Mestre de costas se agachando onde minutos antes ela própria estava deitada.
O tempo parou. E pode sentir o coração dele conversando com o dela. O amor que os habitava era de natureza diferente. E quando ela fechou os olhos ela soube: nunca mais poderia vê-lo novamente.
Como se ele tivesse sentido a decisão por ela tomada, se levantou e permaneceu mais algum tempo de pé, de costas.
Ela aceitou aqueles minutos como sua despedida. E sorveu o mais profundo dos ares partilhado a distância. E então ele se retirou.
Descendo da árvore ela voltou ao local onde ele estava. Encontrou ali uma carta e uma flor. Colocou ambos no bolso e suspirou. Quem sabe daqui alguns anos, quando pudesse superar a própria dor, pudesse ler o que havia ali escrito. Por hora, seguiria no silêncio e na companhia da ferida em sua alma.
E tomando a direção contrária daquele que seria para sempre seu amado Mestre, partiu em busca da sua própria cura.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

A minha Criança Interior





Guiar o reencontro com a Criança Interior das pessoas ao meu redor teve um preço muito justo. Eu deveria estar plenamente sintonizada com a minha própria Criança Interior.
E como todo o motivo deste site e da minha própria busca começou com meu excesso de rigor ao lidar com crianças...
Sim... eu estava sendo preparada. Esse foi o chamado interno ao meu despertar, aquele a quem eu respondi.
Foram dois anos de muitas vivências, workshops, encontros, cursos... e em todos eles sempre era a minha criança ferida que era curada.
Porque a alma e o coração estão na criança.
Eu permiti que a magia entrasse na minha vida. Dei permissão a mim mesma para receber todo o amor do mundo que existe.
E não foi fácil. Foram vários os dias em que tomei banho de joelhos e chorando. Olhei várias vezes para o que doía. Como foram grandes esses dias. Pois aprendi a me levantar. Aprendi a me tornar sólida.
Aprendi a encarar os desafios através da sustentação que encontrava dentro de mim mesma. Aprendi a me consolar, a me acariciar, a me proteger, a me cuidar, a me tratar com gentileza. E isso, meu amado leitor, é a autoestima.
Aprendi a ter longos diálogos comigo mesma, diminuindo um pouco a fome pelos ouvidos do mundo.
Aprendi a amar meu próprio silêncio e a me sentir confortável nele.
Me permiti cantar (com toda minha franca singularidade hahaha). Me permiti fazer coisas tolas e sorrir... Me permiti não seguir regras ... regras em  que eu mesma me aprisionava...
A rigidez,o controle, a inflexibilidade.... como eles machucavam.
A vida é fluxo, é soltar, é prazer, é alegria, é amor.  Lembro-me de pensar enquanto eu vivia meus processos “mas eu posso mesmo”?
Sim!!! Sim, minha amada e doce criança: SIM. Porque soltar vai te levar a surpresas maravilhosas, soltar vai te levar ao inimaginável. Soltar vai fazer você dançar. E não importa onde vamos parar: não somos mais singular. Somos o verdadeiro plural integradas numa só experiência: a de manifestarmos quem nós Somos.
As mãos estão dadas dentro de nosso coração.
E a jornada não acaba. Ela só fica mais interessante. Há muitas flores nesse caminho, e há muito, muito amor. Há um Sol imenso, abundante em luz dourada. E muuuuita boa companhia.
E assim é.







domingo, 8 de julho de 2018

Não colher as pessoas



Há alguns meses, fiz uma leitura de aura com um terapeuta holístico1.  E no chakra cardíaco ele visualizou a seguinte cena: uma menininha brincava sozinha num jardim. E cada flor que ela cheirava, ela arrancava. Havia muitas flores no chão. E, então, consciências na forma de luzes apareceram e ensinaram com amor para a menininha que era possível cheirar as flores sem arrancá-las.
Confesso que anotei e guardei. Ainda não fazia muito sentido pra mim.
Ontem à noite acredito que a explicação chegou.
Não colher as pessoas.
Amar as pessoas como são amados os pássaros livres que voam no céu.
Quando colhemos as pessoas, quando as aprisionamos exigindo que sejam apenas nossas, elas deixam de ser quem elas são.
Passar pela vida, transitar por todos os espaços, amando, liberando, soltando.
O perfume de todos os que amamos continuarão conosco. A presença física deles não é necessária para que esse amor seja sustentado.
E não há honra em ser amada assim também?
Amo-te e permito que vás onde for de teu desejo. Aqui estarei para que nos encontremos por várias vezes, e para todo o sempre. Vá e sejas livre para viver teu coração. Meu perfume seguirá contigo e o teu permanecerá comigo hoje, e a cada novo amanhã.

domingo, 17 de junho de 2018

A pedra que rola






Há um mito sobre uma pedra. Ou será sobre os sentimentos de uma pessoa?
Sísifo foi condenado a rolar morro acima uma pedra. E quando chegava ao topo, ela corria para baixo novamente. Eternamente.
Um detalhe ficou escondido dele por muito tempo. Havia uma saída desse labirinto.
No momento em que ele realizasse com Amor a tarefa aparentemente inútil e sem sentido que lhe cabia, ele seria livre.
Pois o que nos prende ao sofrimento nasce de nós mesmos.
Esse é um desafio comum a cada um de nós que está hoje respirando sobre a terra.  Aprender a desenvolver nosso dia-a-dia com Amor e prazer, nos mínimos detalhes.
Essa ideia me lembrou da questão da jornada. Viver com prazer a jornada, sem pensar em alcançar logo o prêmio do final. A recompensa pode não ser aquilo que você imaginava. E ao chegar lá, onde você sonhou por muito tempo, uma nova tarefa pode lhe esperar: “Ali naquele planeta, precisam da sua ajuda. É necessário levar Amor ao exercício diário do simples viver. Vá ... começando por você mesmo, recorde por lá como é ser Amor rolando esta pedra”.
E lá iremos nós, felizes com certeza, mergulhando em mais um desafio luminoso.
Gratidão querido Professor Hélio Couto pelas oportunas reflexões.

terça-feira, 29 de maio de 2018

O retorno do que damos




Hoje foi dia de trabalhar as dores da alma. E uma reflexão dourada foi lançada, criou raízes em meu coração e seguirá comigo daqui pra frente.
Ouso dizer que resgato neste momento minha disciplina. A disciplina em sempre servir o que há de melhor.

“Daquilo que eu ofereço, disso eu tenho domínio.
Daquilo que meus filhos, meus alunos e meus pacientes recebem, disso eu não tenho nenhum controle.
É necessário não condicionar a satisfação à colheita da oferta. Cada ser assimila aquilo que está pronto para assimilar, o que pode e o que precisa.
Estou feliz com aquilo que ando oferecendo? Pois se não estou, é hora de sair da zona de conforto e buscar. Buscar melhorar cada vez mais a qualidade de minha oferta. Para que haja satisfação e prazer apenas com a entrega em si.
Ser fiel a mim mesma é dar todo o melhor que há potencialmente dentro de mim.
Honrar a mim mesma é reconhecer a beleza e a riqueza do que eu ofereço, e me preencher pela simples possibilidade de manifestar a oferta.”

Então mãos a obra! Há muitas descobertas e conhecimentos esperando minha disciplina interna para que possam com alegria serem servidos. 

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Singular e Plural



Os últimos três meses foram muito intensos na minha vida. E toda a dificuldade esteve dentro de mim. Se me perguntarem “mas o que aconteceu??!”. Não saberei responder... não “aconteceu” nada.
E talvez isso, "o Nada”, tenha sido o suficiente para deflagrar tantos conflitos interiores.
Não vou dizer que venci todos, mas sei que houve conquistas. E uma ferramenta que fez diferença nos dias mais frios foi escrever.
Hoje quando pego o caderninho que acolheu minhas palavras me sinto feliz. Amo ler o que nasceu ali, pois há um bálsamo que serve para qualquer momento. Era eu comigo mesma.
E já que a grande Busca é, na verdade, um reencontro com você mesmo, acredito que fiz meus progressos.  
Divido com vocês a nota que escrevi dia 17/12/17. Meu abraço quentinho em mim mesma:

“Minha história é longa. Pelo céu observo  estrelas e pedaços do meu caminho.
Sou muito mais do que estou.
E estou pronta para me ajudar.
Querida criança dentro de mim. No meu colo, apertada entre meus braços, eu te recebo.Nunca esteve sozinha. Sinta todo meu amor que transborda por você. Se acalme. Tudo está certo.Há um plano. Sempre houve. Você pode ser a ave que plana no céu, entregue à própria vida. Eu estou aqui. Nós estamos.
Sinta nossa presença em seu coração.
Respire.Sorria. E abra seus olhos.
Nós te honramos e te amamos infinitamente.”

Noto nessas linhas o plural e o singular. Eles se misturam. E não consigo não associar isso com uma experiência que tive há poucos dias.
Eu estava inquieta. Havia um problema quase a ser resolvido, e eu não poderia fazer mais nada a respeito. Pedi para minha irmã usar em mim a técnica que uso nos meus pacientes. E lá fui eu.
Ela me levou para uma sala cheia de livros. Enquanto eu os admirava, ela me pediu pra pegar um pergaminho na estante. Lembro de ter ficado brava e pensado “por que o pergaminho?! Por que não pegar um dos livros?!” Mas lá fui eu achar o tal do pergaminho. Ele estava na prateleira próxima ao chão “jogado” num cantinho.
Leia o pergaminho, ela me disse. E quando me imaginei desenrolando aquele pedaço de papel antigo, a cena pulou nos meus olhos fechados.
Vi um jacaré prestes a agarrar seu almoço. Ele pulou do meio de um lago, abriu sua enorme boca e não conseguiu pegar o que queria. Ele sentiu uma frustração enorme. E quando notou minha presença se escondeu. Minha irmã pediu que eu fosse dizendo o que acontecia, e logo me mandou de volta para a biblioteca. Mas eu quis voltar para o jacaré e ela me permitiu.
Eu sentia que eu era o jacaré. Ele estava com medo. Mas eu era também a presença luminosa no lago. Eu queria ajudar o jacaré. Então, a Luz começou a falar para o Jacaré: “não tenha medo, eu vou cuidar de você, nós vamos cuidar de você”. E um choro profundo se seguiu a tudo isso. Um choro real. Houve uma cura nessa dia.
Singular e Plural novamente. Entrega e confiança.
Será que o poeta tinha razão? Não é da nossa sombra que temos medo. Temos medo da nossa própria luz.