domingo, 23 de abril de 2017

O dilema sobre a saída da caverna



Há muitos anos, enquanto eu lia um romance espirita, surgiu uma questão que minha mente ruminou por anos a fio. Será mesmo possível termos livre-arbítrio e justiça ao mesmo tempo?
Incomodava-me pensar que eu ainda estava laaaaá longe nos degraus da famigerada escala evolutiva espiritual, enquanto outros já estavam acima. Na época isso era importante pra mim (“risos amorosos” – plágio assumido de irmãos muito queridos 1). Então surgiu o dilema.
Em algum momento, duas Almas criadas ao mesmo tempo tomaram decisões diferentes. Estavam as duas, simbolicamente, dentro da mesma caverna. E, em algum momento, uma delas resolveu sair. Mas na saída da caverna havia uma criatura assustadora. A Alma que se atreveu a sair passou por uma experiência algo traumática, talvez tenha até cometido seu primeiro ato de violência. E com esse registro cruel seguiu a vida exercendo o seu “livre-arbítrio”, fazendo suas escolhas e executando as suas ações. E a Alma que ficou na caverna? Essa, na minha juventude, era a Alma que tinha evoluído mais rápido. Ela conseguiu continuar pueril e dócil.
Eu, claro, me identificava com a Alma atrevida. Como poderia ser justo, que uma escolha inicial “errada” gerasse um padrão de escolhas sucessivas ruins, uma semeadura ruim que reverberasse por tanto tempo?
Será que não havia nada distinto no ambiente emocional dessas duas Almas que fundamentasse as escolhas divergentes? Era impossível não pensar que talvez a Alma que havia saído da caverna não tivesse nenhum laço de afeto lá dentro. Enquanto a que ficou tivesse uma mãe carinhosa e disponível.  As duas tiveram destinos diferentes porque suas escolhas foram diferentes. E será mesmo que o meio não gerou nenhuma tendência? Será que eu não poderia ter escrito uma história mais curta, se lá trás em algum momento, eu não tivesse virado à direita em vez de virar à esquerda?
Isso era eu tentando encontrar uma justificativa para o fato do personagem do romance que eu lia estar em uma reunião com Jesus, enquanto eu estava encarnada com 14 anos no Planeta Terra cheia de carma para cuidar.
Muitos anos depois eu consegui fazer uma releitura desse dilema.
Será mesmo que evoluiu mais rápido a Alma que ficou na caverna? Quando nos expomos, quando vivemos , quando experimentamos, nosso Ser se torna mais rico de informações. Através da experiência nasce a sabedoria.
Depois de ter aprendido Física Quântica com o Hélio Couto2, pude analisar por outra perspectiva essa questão. Dois fragmentos divinos, duas Almas, escolhem esquecer momentaneamente a fonte de infinito Amor da qual fazem parte para obterem novas experiências. Era preciso esquecer, para que as escolhas fossem feitas de modo literalmente cego. E então essas Almas mergulham na densidade. E sim... muitas das decisões que tomaram foram induzidas pelo meio em que viviam, pois elas adquiriram crenças, dogmas, e  paradigmas que as influenciaram de modo peculiar. E está tudo certo.
Está tudo certo. Não importa que um de nós tenha feito todas as escolhas “erradas”. Muitas experiências ímpares foram obtidas, muita informação foi gerada. Está tudo certo: todos percorremos caminhos únicos, por tempos diferentes. Todos levaremos nossa contribuição. Infinitas possibilidades... e por que não todas serem contempladas?
Mas a questão da influência do meio nas nossas escolhas ainda ameaçava o conceito que eu tinha de livre-arbítrio.  E isso só foi revisto recentemente.
A cada experiência em que mergulhamos, vestimos crenças e dogmas locais. E alguns trazemos enraizados de existências anteriores. Só conseguiremos tomar decisões na nossa vida, de modo verdadeiramente consciente e livre, quando conseguirmos identificar as crenças limitantes que nos envolvem.
Só quando soubermos quem Somos, o que realmente queremos, poderemos escolher com nosso livre-arbítrio. Isso é um ponto interessante que o filme Matrix ressaltou: as pessoas só sobreviviam no mundo ilusório de Ma(ya)trix   porque acreditavam que tinham uma escolha, o que não era real.
Então divido com vocês o momento atual da minha vida. Essa busca por quem Eu Sou. Esse mergulho interior. E uma ferramenta que estou aprendendo a usar para acessar isso é a Meditação. Precisamos nos reconectar com a nossa própria Verdade.
Deitados ou sentados, respiramos profundamente algumas vezes. E INTENCIONAMOS. Intencionamos a reconexão com nosso Eu Superior. E por alguns minutos vivemos essa imersão. Podemos levar nossos dilemas para nossa meditação, INTENCIONANDO descobrir o nosso real querer.
E aqui explico meus risos amorosos do primeiro parágrafo. Já não me preocupo se sou uma das últimas, ou fui uma das primeiras em toda essa história. Se partimos do mesmo Todo amoroso, se carregamos dentro de nós a completude adormecida, então está tudo bem. Não há julgamentos. Há amor incondicional, há aceitação, há a verdade inexorável de que todos somos parte, de que todos somos Um.
Avante queridos! Despertemos para quem Somos de verdade, voltemos para casa!
Com amor,


1: http://www.sementesdasestrelas.com.br/
2: http://www.heliocouto.com/