domingo, 16 de junho de 2019

A integração das Partes






Malévola é a personagem de um filme que vira e mexe dialoga comigo. Sim... vamos ser mais claros. Minha Malévola interna vira e mexe conversa comigo.
Ela é a parte que tinha tudo para ter tido um final feliz. Tinha inocência e bom coração. Mas o meio do caminho foi um pouco amargo. E ela não soube lidar muito bem com isso...
Ainda não sei em detalhes a história dela.
Sinto apenas que ela se sentiu profundamente ferida. E a dor que sentiu envenenou sua mente. Logo, ela mesma virou o veneno de muitos.
Sempre que me sinto ferida escuto a voz dela dentro de mim.  Nessa hora sinto até suas garras. Como se estivesse envolvida em uma jaula cheia de pontas afiadas, ela se isolou. E vê todos como potenciais inimigos.
Ela vocifera. E sinto ate meus dentes sendo expostos. Pronta para o ataque – na verdade sua defesa.
Ignorar sua presença em mim lhe daria mais poder. Aceita-la e acolhê-la a tornam mais uma voz que tem seu direito em ser ouvida.
Então escuto, para em seguida discernir.
Tenho sempre uma escolha.
Posso interpretar as ações que chegam até mim como um ataque, o que gera o impulso de me defender. Ou posso significar o que acontece ao meu redor como oportunidades de aprender mais sobre mim mesma.
Um exemplo?
Um dos meus filhos se queixa tristinho comigo, de ter ouvido um comentário de suas professoras sobre a dificuldade que teve com um exercício.
Nessa hora Malévola vociferou.  Me senti enorme, com os olhos queimando e meus dentes expostos. Já imaginava com quais pessoas eu iria conversar. Quais palavras sutilmente ácidas e dolorosas eu iria usar nesses diálogos. Já imaginava todo mundo que me escutava chorando.
Então... respirei.
E me permiti ouvir outras vozes.
Confesso que a voz que ouvi foi então a da minha irmã. Minha irmã caçula que carrega uma sabedoria milenar em seu coração.
Ela me disse: e se seu foco mudar para o modo como seu filho recebeu uma observação a respeito dele?  Então dissertou sobre preparamos nossos filhos para o prazer do desafio e não para a conquista de resultados. Permitirmos que nossas crianças ousem sem temer o fracasso, ousem sem ter receio de frustrar expectativas.
Depois do nosso encontro, outras vozes seguiram dentro de mim deliberando sobre as sementes que ela havia plantado.
Por fim escolhi.
Escolhi acreditar que não era a intenção da professora agredir a autoestima do meu filho. Escolhi olhar para como estou preparando ele para seus desafios pessoais.
E pude sentir, enfim, gratidão pela professora. Gratidão, por ainda em tenra idade, ter me mostrado brechas na educação emocional do meu amado filhinho.
Malévola continua aqui. Teve sua vez para se expressar, e ouviu atenta todas as outras vozes. Está pensativa agora. O desfecho de certa forma a surpreende.
Um dia, um dia Amada Malévola. Um dia a dor de seu coração será curada. Um dia você confiará de novo nas pessoas. Um dia você voltará a amar. Tudo no seu tempo. Até lá estarei ao seu lado. Sempre juntas: eu, você, e todas as outras partes.
 Juntas somos Um.