sábado, 17 de fevereiro de 2018

Singular e Plural



Os últimos três meses foram muito intensos na minha vida. E toda a dificuldade esteve dentro de mim. Se me perguntarem “mas o que aconteceu??!”. Não saberei responder... não “aconteceu” nada.
E talvez isso, "o Nada”, tenha sido o suficiente para deflagrar tantos conflitos interiores.
Não vou dizer que venci todos, mas sei que houve conquistas. E uma ferramenta que fez diferença nos dias mais frios foi escrever.
Hoje quando pego o caderninho que acolheu minhas palavras me sinto feliz. Amo ler o que nasceu ali, pois há um bálsamo que serve para qualquer momento. Era eu comigo mesma.
E já que a grande Busca é, na verdade, um reencontro com você mesmo, acredito que fiz meus progressos.  
Divido com vocês a nota que escrevi dia 17/12/17. Meu abraço quentinho em mim mesma:

“Minha história é longa. Pelo céu observo  estrelas e pedaços do meu caminho.
Sou muito mais do que estou.
E estou pronta para me ajudar.
Querida criança dentro de mim. No meu colo, apertada entre meus braços, eu te recebo.Nunca esteve sozinha. Sinta todo meu amor que transborda por você. Se acalme. Tudo está certo.Há um plano. Sempre houve. Você pode ser a ave que plana no céu, entregue à própria vida. Eu estou aqui. Nós estamos.
Sinta nossa presença em seu coração.
Respire.Sorria. E abra seus olhos.
Nós te honramos e te amamos infinitamente.”

Noto nessas linhas o plural e o singular. Eles se misturam. E não consigo não associar isso com uma experiência que tive há poucos dias.
Eu estava inquieta. Havia um problema quase a ser resolvido, e eu não poderia fazer mais nada a respeito. Pedi para minha irmã usar em mim a técnica que uso nos meus pacientes. E lá fui eu.
Ela me levou para uma sala cheia de livros. Enquanto eu os admirava, ela me pediu pra pegar um pergaminho na estante. Lembro de ter ficado brava e pensado “por que o pergaminho?! Por que não pegar um dos livros?!” Mas lá fui eu achar o tal do pergaminho. Ele estava na prateleira próxima ao chão “jogado” num cantinho.
Leia o pergaminho, ela me disse. E quando me imaginei desenrolando aquele pedaço de papel antigo, a cena pulou nos meus olhos fechados.
Vi um jacaré prestes a agarrar seu almoço. Ele pulou do meio de um lago, abriu sua enorme boca e não conseguiu pegar o que queria. Ele sentiu uma frustração enorme. E quando notou minha presença se escondeu. Minha irmã pediu que eu fosse dizendo o que acontecia, e logo me mandou de volta para a biblioteca. Mas eu quis voltar para o jacaré e ela me permitiu.
Eu sentia que eu era o jacaré. Ele estava com medo. Mas eu era também a presença luminosa no lago. Eu queria ajudar o jacaré. Então, a Luz começou a falar para o Jacaré: “não tenha medo, eu vou cuidar de você, nós vamos cuidar de você”. E um choro profundo se seguiu a tudo isso. Um choro real. Houve uma cura nessa dia.
Singular e Plural novamente. Entrega e confiança.
Será que o poeta tinha razão? Não é da nossa sombra que temos medo. Temos medo da nossa própria luz.