quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Quando o medo escolhe o caminho



Hoje uma história veio conversar comigo. Me pediu ajuda. Ela queria reescrever suas escolhas. E fomos juntas nessa aventura.
E de presente ganhei um grande ensinamento.
Continuando com as “Pequenas Histórias”, seja bem-vinda Princesa Elehara.


Eu senti medo. Quando o vi pela primeira vez, ele gritava e batia na mesa. Os olhos de meu pai transmitiam o temor que aquela figura gerava.  O frio que senti correr na minha espinha me dizia que nossos destinos tinham uma conexão.
Estava quase perto do aniversário por mim antes tão esperado. Aquela data em que eu seria reconhecida como mulher e não mais como criança. E seria também quando me perderia de mim mesma.
Minha mãe evitou a notícia até as vésperas da extrema necessidade. Então eu soube.
Estava destinada a ser a esposa daquele a quem mais temia.
Eram tantos os sonhos da minha menina... que a mulher dentro de mim não conseguiu carregar. Sucumbiu.
Depois de poucos dias, eu já tinha um plano. Minha alegria estava em primeiro lugar. Ir ao encontro dos meus sonhos, esse era o meu propósito.
Na noite da minha fuga, fui bem acompanhada. Meu melhor amigo de infância que mais tarde se tornou o companheiro do meu lar, seguiu comigo por muitas semanas de viagem.
E conforme eu ia deixando para trás o medo de viver uma vida que não era a minha, não sentia a leveza e a liberdade que supunha buscar.
Foi uma vida pacata. Tive alguns abortos até desistir da maternidade. Em uma casa humilde, ensinava artes para um povoado enquanto meu companheiro cultivava alguns grãos. Os últimos anos de minha vida passei sozinha. E poucas vezes me permiti pensar em meus pais. Escondia meu amor por eles atrás dos pensamentos do quão sem valor eu era como moeda de troca para eles.
No meu último minuto, quase em meu último suspiro, eu fui verdadeira comigo mesma. Eu fugi. Fugi de compromissos muito maiores do que eu suspeitava. E com pesar senti a dor derradeira em meu peito.
É bom estar aqui. Você me acompanha? Sim... agora você saberá.
Aquele que eu temia, era um grande cobrador de nossa família. Casando-me com ele, eu trago prosperidade e paz para meu reino de origem.
Ele era austero, mas honrado. Não conheceu a doçura em sua vida, por isso não sabia manifestá-la, ainda.
Meus primeiros anos de casada foram os mais desafiadores. Mas aos poucos fui aprendendo a ver as qualidades de meu marido e a admirá-lo. Para que o amor surgisse foi preciso muito pouco então.
A minha presença foi acalmando a dor da alma dele. E também ele aprendeu a dar amor. Todo o nosso povo conheceu esse novo lado dele.
Foi de sua dinastia, o Rei mais amado.
Anos de muita prosperidade, paz e fraternidade foram escritos sobre aquela terra.
Desencarno segurando sua mão, rodeada de filhos e netos. E por onde olho encontro amor e honra.  No meu último suspiro sinto-me preenchida de gratidão ... eu cumpri com o propósito de minha alma, e como consequência tive uma vida repleta de alegria.
Pois assim é, alma minha irmã querida.  Agrego em nós esse conhecimento: a alegria e o prazer de viver são a consequência da realização do nosso propósito de vida, não são a meta em si mesmos. Aceite os desafios da vida, pois eles são os procedimentos alquímicos que nos levarão ao ouro da consciência em paz. Olhe por outro ângulo para as suas situações desafiantes. Lembre-se de que elas sempre serão menores do que você, mesmo que o medo insista em te dizer a mentira contrária.
 Deixo com você a nossa paz.
 Gratidão.