Ninguém
me perguntou. E eu quero falar. Então sou grata ao papel que aceita
minhas palavras incondicionalmente.
Devo
preveni-lo querido leitor. Há 50% de chance de você não gostar do
que vai ler.
Na
literatura médica, a opinião do especialista não traz robustez
para as escolhas de nossas condutas, mas todo bom e humilde médico
já seguiu a opinião de um outro colega especialista.
O
que trago aqui será menos do que a opinião de um especialista.
Trago a opinião da experiência. A minha própria experiência com
os pacientes com COVID-19. Não sou especialista. Sou clínica geral
há mais de 3 meses atendendo pacientes internados com esse
diagnóstico.
Vimos
de tudo. Jovens que morreram. Octagenários que receberam alta.
Quando
tudo começou, meus conhecimentos em Medicina Oriental me prepararam
para observar uma questão: a tristeza vulnerabiliza os pulmões.
Então a busquei em cada paciente que admiti na enfermaria ou passei
visita durante sua estadia lá.
Meu
amigo leitor…. ela estava lá, com suas múltiplas faces.
Eu
recebo quase todo dia um vídeo de algum colega falando sobre alguma
medicação. Então queria falar disso aqui também.
Às
vezes eu sinto uma necessidade das pessoas pela pílula mágica.
Eu
sinto muito se isso vai te ferir, mas dessa vez isso não vai
acontecer.
E
aqui sinto necessidade de trazer uma história. Do nosso amado Chico
Xavier. Conta-se que uma vez um homem o buscou com uma receita para
uma doença pulmonar. “Chico, eu não tenho dinheiro para esses
remédios”. Chico então picou a receita em vários pedacinhos e
pediu que tomasse um pedacinho por dia ate o último deles. Você já
sabe o que aconteceu… tudo deu certo no final.
Então,
querido: se você quiser tomar própolis, vermífugo, dipirona,
hidroxicloroquina, chá de alho, floral, seja o que for eu vou te
apoiar. Você vai sentir o que faz sentido para você e vai se
respeitar seguindo o seu coração.
O
meu coração me diz que a cura vem de dentro para fora. Nada do que
eu tomar será salvador. Lembra do nosso Mestre do Amor dizendo que
não é o que entra pela boca que mata, mas sim o que sai dela? Ouso
fazer a mesma correlação quanto a medicações para essa doença.
Quando
ligo para as famílias dos que interno e pergunto quantos moram com o
paciente. Já deixei de me surpreender. Das dez pessoas que moram, só
ele teve sintoma sério. Alguns tiveram dor de garganta,outros
diarreia. Só ele precisou internar.
Isso
não te chama a atenção?
Isso
pra mim é onde está o grande chamado.
Há
tristeza, há medo. “Tenho medo de morrer”. Meu querido, isso um
dia será inevitável. Por que você sente medo de olhar para isso
como uma possibilidade hoje? Quais condutas mudariam face a isso?
Quais revisões internas você teria que fazer para encarar com paz
essa possibilidade?
Já
escutei você gritar ai do lado: hei! Você está falando pra eu me
entregar ao vírus sem lutar?
Não…
não estou falando para você sair lambendo o corrimão do metrô.
Estou
falando para você olhar para dentro e entender o modo que você lida
com uma fatalidade: a finitude do seu corpo biológico.
E
claro: siga seu coração.
Você
precisa abrir a sua loja porque você precisa trabalhar para
sobreviver. Sinta em seu coração o melhor modo de fazer isso, ache
seu “caminho do meio”. Eu não sei como ele é para você. Esse
trabalho de descobrir é seu, querido.
No
dia das mães encontrei minha mãe e minha avó materna que mora
sozinha. Conversamos antes e acordamos: morreremos juntos ou
ficaremos tristes e separados. Escolhemos a primeira alternativa. E
para nós aquele foi o nosso caminho do meio. Se minha avó falecesse
de COVID-19 depois daquele dia, lembraríamos sempre daquele
encontro cheio de amor e alegria.
Mas
cuidado… respeite as escolhas do outro.
Eu
admiti no hospital uma senhora idosa que acusou a nora de tê-la
visitado no meio da pandemia. “Tenho certeza que foi ela que me
adoeceu”. Aquelas palavras foram um tapa na minha cara naquele dia.
Minha senhora, queria poder te dizer que ninguém adoece ninguém.
Quem está bem consigo mesmo e quem não tem necessidade de nenhuma
revisão interna poderá lamber o corrimão do metrô que não vai
adoecer. Assim eu vejo.
Precisamos
respeitar a escolha dos outros.
Há
muitas pessoas com medo. Então, se você acredita que a máscara
facial te impossibilita de respirar o Prana que te ajuda a ter saúde,
por favor, use a máscara quando entrar numa loja pois a
recepcionista acredita que sem a máscara você poderá prejudicá-la.
Quanto
ao tapa na cara lá de cima. Eu me assustei com o rancor da vozinha.
Principalmente porque fora a nora dela quem me pediu para fazer uma
ligação pelo meu celular para ela. Eu espero que essas duas almas
se entendam logo. Graças a Deus que a vozinha teve alta dias depois.
Elas ainda terão tempo para seus ajustes interpessoais.
Quando
eu pegar COVID-19 – sim, eu concordo com o prefeito de Limeira.
Acredito que todos nós teremos contato com o vírus, e que a imensa
maioria não sentirá nada. Eu vou usar florais, própolis, e tomar
antibióticos se necessário. E buscar em minha alma de onde veio a
tristeza. E se eu sentir medo, vou lá no fundo entender de onde ele
nasceu.
Então
vou dividir aqui outra coisa.
Lá
no começo do caos, antes de um dos meus primeiros plantões, eu tive
uma crise de choro antes de trabalhar. E senti muito medo. Medo do
desconhecido, medo do que mudaria em nossa vida. E no meio da dor, eu
senti meu mentor espiritual me explicando que isso que eu sentia era
o que todas as almas que eu mandei para batalhas em outras vidas
sentiram também. Eu fiz uma oração a todas elas, e pedi o perdão
de cada uma. Senti paz depois disso, busquei minha fé de que não
cai uma folha de uma árvore sem a permissão divina e fui trabalhar.
Se
você chegou até aqui, gratidão por sua atenção. Confie na ordem
divina, e se entregue aos seus afazeres com responsabilidade. E tome
tudo aquilo que seu coração pedir. E não tome aquilo que te
pedirem para tomar. Cada um responde a seu próprio remédio.
E
não venha falar mal de efeito placebo. Porque ele por si só já
prova que a sua própria energia, sua fé, sua confiança já são
curadores.
Tá
tudo certo.
E
agora, quero dizer que eu sinto muito.
Sinto
muito pelas pessoas que não puderam velar seus familiares e
descobriram dias depois que o teste veio negativo. Isso aconteceu
muito quando o teste demorava dez dias para ficar pronto. Por favor,
não se entreguem a raiva e revolta. Falo em meu nome e por aqueles
que trabalham comigo: não houve intenção nenhuma de lucrar com a
dor de nenhuma família. E se em algum outro lugar houve algum ganho
com isso, eu sinto muito por quem articulou isso. E sinto muito por
todos aqueles que lucraram de outras formas com a dor e sofrimento
dos outros. Nada deixa de ser registrado em nossa própria
consciência.
Também
sinto muito por todos que tiveram que internar seus pais e avós e
ficaram semanas sem poder visitá-los. Há sempre um aprendizado em
tudo, busquemos também nessas situações algum crescimento.
Finalmente,
meu respeito profundo a todos os profissionais dos hospitais,
inclusive à equipe da limpeza. O medo está sendo encarado e todo
mundo pôde crescer um pouco mais como ser humano com toda essa
experiência.
Tá
tudo certo.
Tudo
segue sempre na perfeita Ordem Divina.
Gratidão.